Ramiro
22-05-08, 23:35
Num texto anterior introduzi o conceito de "Ressentimentos Passivos ". Para
relembrar, lá vai um trecho: "Você também é mais um (ou uma) dos que
preenchem seu tempo com ressentimentos passivos? Conhece gente assim? Pois
é. O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam "que
horror". Sabem do roubo do político e falam "que vergonha". Vêem a fila de
aposentados ao sol e comentam "que absurdo". Assistem a uma quase
pornografia no programa dominical de televisão e dizem "que baixaria".
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram "que medo". E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição "neste país". Do ressentimento
passivo à participação ativa".
Pois recentemente estive em Porto Alegre , onde pude apreciar atitudes com
as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. Um regionalismo
que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de
ninguém.
No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino do Rio Grande do Sul. Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra! TODOS!
"Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de
setembro / o precursor da liberdade" . Em seguida um casal, sentado do meu
lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece
aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até
para mim eles oferecem. E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba,
mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao
qual eu, paulista, não estou acostumado. Desde que saí de Bauru, nos anos
setenta, não sei mais o
que é "comunidade". Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São
Paulo. Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é... Foi então que me
deu um estalo. Sabe como é que os "ressentimentos passivos" se
transformarão em participação ativa? De onde virá o grito de "basta" contra
os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São
Paulo é que não será. Esse grito exige consciência coletiva, algo que há
muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de
mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura
própria, sem "liga". Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até
compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes. Penso que o grito -
se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa "liga". A
mesma que eu vi em Porto
Alegre. Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a
bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais
em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles. De minha parte, eu
acrescentaria, ainda: "...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda
Terra..."
Arnaldo Jabor
relembrar, lá vai um trecho: "Você também é mais um (ou uma) dos que
preenchem seu tempo com ressentimentos passivos? Conhece gente assim? Pois
é. O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam "que
horror". Sabem do roubo do político e falam "que vergonha". Vêem a fila de
aposentados ao sol e comentam "que absurdo". Assistem a uma quase
pornografia no programa dominical de televisão e dizem "que baixaria".
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram "que medo". E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição "neste país". Do ressentimento
passivo à participação ativa".
Pois recentemente estive em Porto Alegre , onde pude apreciar atitudes com
as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. Um regionalismo
que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de
ninguém.
No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino do Rio Grande do Sul. Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra! TODOS!
"Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de
setembro / o precursor da liberdade" . Em seguida um casal, sentado do meu
lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece
aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até
para mim eles oferecem. E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba,
mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao
qual eu, paulista, não estou acostumado. Desde que saí de Bauru, nos anos
setenta, não sei mais o
que é "comunidade". Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São
Paulo. Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é... Foi então que me
deu um estalo. Sabe como é que os "ressentimentos passivos" se
transformarão em participação ativa? De onde virá o grito de "basta" contra
os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São
Paulo é que não será. Esse grito exige consciência coletiva, algo que há
muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de
mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura
própria, sem "liga". Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até
compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes. Penso que o grito -
se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa "liga". A
mesma que eu vi em Porto
Alegre. Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a
bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais
em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles. De minha parte, eu
acrescentaria, ainda: "...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda
Terra..."
Arnaldo Jabor