Wanderson
08-07-08, 20:42
Foi enterrado aos gritos de “justiça” o menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, pouco depois das 17h desta terça-feira (8). No momento do sepultamento, acompanhado por cerca de 300 pessoas e marcado por emoção e revolta, o pai da criança, Paulo Roberto Barbosa Soares, pediu uma salva de palmas em homenagem ao filho.
“Você não vai morrer dentro do meu coração. Você não merece isso. Foi uma covardia o que fizeram com você”, foram as últimas palavras do pai para seu filho, que foi enterrado vestindo a roupa do Homem-Aranha, seu personagem preferido, que seria tema da sua festa de aniversário de 4 anos, no próximo dia 29.
João Roberto morreu após ser atingido por um tiro na cabeça. Ele estava no carro com a mãe e o irmão de 9 meses quando o veículo foi alvo de pelo menos 15 disparos feitos por dois policiais militares, no domingo (6), na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Durante o cortejo, o grupo parou duas vezes para que a mãe, Alessandra Soares, bebesse água. Muito debilitada e sob efeito de calmantes, Alessandra tinha um curativo na cintura, do lado esquerdo, marca da noite em que perdeu o filho para a violência. Chorando muito, ela foi amparada pelo marido na hora do sepultamento: “A gente se ama, nós vamos superar isso”, disse Paulo Roberto para a mulher, que saiu do local do enterro, no Caju, na Zona Portuária do Rio, numa ambulância.
Foto: Marcos D´Paula/Agencia Estado
Marcos D´Paula/Agencia Estado
Durante o enterro, pais do menino João Roberto precisaram de atendimento médico. (Foto: Marcos D´Paula/Ag. Estado)
Velório
Ainda no velório, a avó materna do menino também passou mal. Hipertensa, Cirene Amaral, de 70 anos, desmaiou e teve que ser medicada. A mãe do menino, que também passou mal ao ver o filho no caixão, passou boa parte do velório em outra capela, onde recebeu o apoio de amigos e familiares.
Cerca de 200 taxistas foram prestar homenagem a Paulo Roberto, seu companheiro de profissão, que trabalha na Grajaú Service. Eles chegaram juntos ao cemitério e ajudaram a fazer um cordão de isolamento para a passagem do caixão.
O velório começou na tarde desta terça-feira (8) na capela B do Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio. A ONG Rio de Paz trouxe uma faixa preta escrito “João Roberto, 3 anos, tragédia anunciada” e soltou um balão vermelho após o enterro. O enterro contou com a presença de familiares de outras vítimas da violência no Rio. Segundo Carlos André Gonçalves, amigo da família, nenhuma autoridade procurou os pais para prestar solidariedade.
Pai chama PMs de assassinos
Muito emocionado, o pai da vítima, o taxista Paulo Roberto Barbosa Soares, chegou ao velório por volta das 15h desta terça. Quando entrou na capela, ele chamou os policiais de assassinos e, transtornado, gritou que a sociedade carioca precisa de proteção. Em seguida, Paulo saiu da capela e desabafou sua dor com os jornalistas presentes no local.
"Ninguém tem o direito de matar ninguém. O Estado não tem carta-branca para matar ninguém. Aqui não tem pena de morte. Se esta instituição (PM) está falida, vamos melhorar a instituição, mas não botar um monstro na rua para matar a gente. Eles são mal remunerados, mas isso não é motivo para se transformarem em monstros. Tem gente de bem na rua que ajuda a pagar os salários deles, como eu e minha família", disse.
Muito emocionado, ele também falou sobre o menino. "Meu filho dizia que me amava todos os dias, pedia para ir ao Maracanã para ver futebol", disse, sendo amparado por amigos e parentes.
Escola não comunicou alunos sobre morte
A professora de João Roberto, Bruna Couto Camillo, disse que a escola pediu que os pais não levassem seus filhos na segunda-feira (7) à escola Criativa Idade, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Segundo ela, os diretores da instituição ainda não conversaram com as crianças sobre a morte do colega, que ficava na escola em horário integral.
“Ele era uma criança alegre como outra qualquer, muito comunicativo, que adorava futebol”, disse Bruna.
MP pede prisão temporária de policiais
O Ministério Público pediu nesta terça à Justiça a prisão temporária dos dois policiais militares suspeitos de atirar contra o carro de Alessandra. O MP recebeu o pedido do delegado responsável pelo caso, Walter Alves, da 19ª DP (Tijuca), que indiciou os policiais nesta terça por homicídio doloso qualificado (com intenção de matar e sem dar chance de defesa à vítima).
Segundo a polícia, os PMs teriam participado de um tiroteio na Rua Espírito Santo Cardoso, na Tijuca, na Zona Norte, matando um menino de 3 anos que estava dentro de um carro com a mãe e um irmão de 9 meses.
Os acusados mantiveram no Inquérito Policial Militar (IPM) a versão de que estavam perseguindo bandidos e que o carro de Alessandra Soares ficou no meio do fogo cruzado.
Cabral avalia ação de PMs como 'erro fatal'
Em reunião na sede da Secretaria estadual de Segurança Pública, no Centro, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, comentou, na noite desta terça-feira (8), a morte do menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, e avaliou como erro fatal a ação dos policiais militares envolvidos no confronto.
“Eu não consegui dormir esta noite com a imagem do pai em desespero na minha cabeça. Como governador, eu avalio a ação policial como um erro fatal e incompleta capacidade de discernimento no momento de tensão”, disse Cabral.
Como aconteceu
Alessandra voltava de uma festa de aniversário com os dois filhos em seu carro, um Palio Weekend cinza chumbo, que foi confundido e alvejado pelos policiais militares como se fosse o carro usado por suspeitos de assaltos.
O carro que teria sido usado pelos perseguidos foi encontrado na madrugada desta terça. Segundo a polícia, o veículo Fiat, modelo Stilo, era roubado e está envolvido em quatro ocorrências de roubos de pertences.
O proprietário do carro esteve na delegacia, mas não conseguiu identificar por fotos os dois assaltantes que o renderam usando pistolas. A perícia encontrou quatro cápsulas de pistola deflagradas dentro do Stilo.
* Colaborou Alba Valéria Mendonça
http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL640078-5606,00-MENINO+JOAO+ROBERTO+E+ENTERRADO+AOS+GRITOS+DE+JUST ICA.html
“Você não vai morrer dentro do meu coração. Você não merece isso. Foi uma covardia o que fizeram com você”, foram as últimas palavras do pai para seu filho, que foi enterrado vestindo a roupa do Homem-Aranha, seu personagem preferido, que seria tema da sua festa de aniversário de 4 anos, no próximo dia 29.
João Roberto morreu após ser atingido por um tiro na cabeça. Ele estava no carro com a mãe e o irmão de 9 meses quando o veículo foi alvo de pelo menos 15 disparos feitos por dois policiais militares, no domingo (6), na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Durante o cortejo, o grupo parou duas vezes para que a mãe, Alessandra Soares, bebesse água. Muito debilitada e sob efeito de calmantes, Alessandra tinha um curativo na cintura, do lado esquerdo, marca da noite em que perdeu o filho para a violência. Chorando muito, ela foi amparada pelo marido na hora do sepultamento: “A gente se ama, nós vamos superar isso”, disse Paulo Roberto para a mulher, que saiu do local do enterro, no Caju, na Zona Portuária do Rio, numa ambulância.
Foto: Marcos D´Paula/Agencia Estado
Marcos D´Paula/Agencia Estado
Durante o enterro, pais do menino João Roberto precisaram de atendimento médico. (Foto: Marcos D´Paula/Ag. Estado)
Velório
Ainda no velório, a avó materna do menino também passou mal. Hipertensa, Cirene Amaral, de 70 anos, desmaiou e teve que ser medicada. A mãe do menino, que também passou mal ao ver o filho no caixão, passou boa parte do velório em outra capela, onde recebeu o apoio de amigos e familiares.
Cerca de 200 taxistas foram prestar homenagem a Paulo Roberto, seu companheiro de profissão, que trabalha na Grajaú Service. Eles chegaram juntos ao cemitério e ajudaram a fazer um cordão de isolamento para a passagem do caixão.
O velório começou na tarde desta terça-feira (8) na capela B do Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio. A ONG Rio de Paz trouxe uma faixa preta escrito “João Roberto, 3 anos, tragédia anunciada” e soltou um balão vermelho após o enterro. O enterro contou com a presença de familiares de outras vítimas da violência no Rio. Segundo Carlos André Gonçalves, amigo da família, nenhuma autoridade procurou os pais para prestar solidariedade.
Pai chama PMs de assassinos
Muito emocionado, o pai da vítima, o taxista Paulo Roberto Barbosa Soares, chegou ao velório por volta das 15h desta terça. Quando entrou na capela, ele chamou os policiais de assassinos e, transtornado, gritou que a sociedade carioca precisa de proteção. Em seguida, Paulo saiu da capela e desabafou sua dor com os jornalistas presentes no local.
"Ninguém tem o direito de matar ninguém. O Estado não tem carta-branca para matar ninguém. Aqui não tem pena de morte. Se esta instituição (PM) está falida, vamos melhorar a instituição, mas não botar um monstro na rua para matar a gente. Eles são mal remunerados, mas isso não é motivo para se transformarem em monstros. Tem gente de bem na rua que ajuda a pagar os salários deles, como eu e minha família", disse.
Muito emocionado, ele também falou sobre o menino. "Meu filho dizia que me amava todos os dias, pedia para ir ao Maracanã para ver futebol", disse, sendo amparado por amigos e parentes.
Escola não comunicou alunos sobre morte
A professora de João Roberto, Bruna Couto Camillo, disse que a escola pediu que os pais não levassem seus filhos na segunda-feira (7) à escola Criativa Idade, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Segundo ela, os diretores da instituição ainda não conversaram com as crianças sobre a morte do colega, que ficava na escola em horário integral.
“Ele era uma criança alegre como outra qualquer, muito comunicativo, que adorava futebol”, disse Bruna.
MP pede prisão temporária de policiais
O Ministério Público pediu nesta terça à Justiça a prisão temporária dos dois policiais militares suspeitos de atirar contra o carro de Alessandra. O MP recebeu o pedido do delegado responsável pelo caso, Walter Alves, da 19ª DP (Tijuca), que indiciou os policiais nesta terça por homicídio doloso qualificado (com intenção de matar e sem dar chance de defesa à vítima).
Segundo a polícia, os PMs teriam participado de um tiroteio na Rua Espírito Santo Cardoso, na Tijuca, na Zona Norte, matando um menino de 3 anos que estava dentro de um carro com a mãe e um irmão de 9 meses.
Os acusados mantiveram no Inquérito Policial Militar (IPM) a versão de que estavam perseguindo bandidos e que o carro de Alessandra Soares ficou no meio do fogo cruzado.
Cabral avalia ação de PMs como 'erro fatal'
Em reunião na sede da Secretaria estadual de Segurança Pública, no Centro, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, comentou, na noite desta terça-feira (8), a morte do menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos, e avaliou como erro fatal a ação dos policiais militares envolvidos no confronto.
“Eu não consegui dormir esta noite com a imagem do pai em desespero na minha cabeça. Como governador, eu avalio a ação policial como um erro fatal e incompleta capacidade de discernimento no momento de tensão”, disse Cabral.
Como aconteceu
Alessandra voltava de uma festa de aniversário com os dois filhos em seu carro, um Palio Weekend cinza chumbo, que foi confundido e alvejado pelos policiais militares como se fosse o carro usado por suspeitos de assaltos.
O carro que teria sido usado pelos perseguidos foi encontrado na madrugada desta terça. Segundo a polícia, o veículo Fiat, modelo Stilo, era roubado e está envolvido em quatro ocorrências de roubos de pertences.
O proprietário do carro esteve na delegacia, mas não conseguiu identificar por fotos os dois assaltantes que o renderam usando pistolas. A perícia encontrou quatro cápsulas de pistola deflagradas dentro do Stilo.
* Colaborou Alba Valéria Mendonça
http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL640078-5606,00-MENINO+JOAO+ROBERTO+E+ENTERRADO+AOS+GRITOS+DE+JUST ICA.html