Briga na Base
Chegada da YBR Factor reacende a briga na categoria que vende mais de meio milhão de motos por ano no Brasil.



Parece que não, mas realizar um comparativo entre motocicletas de baixa cilindrada requer muita responsabilidade. Responsabilidade do ponto de vista jornalístico, é claro. Para se ter idéia, só no ano passado Yamaha YBR e Honda CG venderam nada menos que meio milhão de unidades, quase R$ 3 bilhões em receita de vendas para as fabricantes. Pelas concessionárias Honda, foram comercializadas 394.291 CG 150 Titan, enquanto a Yamaha vendeu no mesmo período 124.814 YBR 125. É muita motocicleta...



A chegada da nova YBR Factor anuncia duas questões. A primeira, tentar diminuir a enorme vantagem da Honda no segmento e a segunda, antecipar a vigência do comtrole de emissões, Promot 3, que entrou em vigor a partir de primeiro de janeiro de 2009. Portanto, quem adquirir a nova YBR Factor já tem uma certa vantagem; ou melhor, duas: está contribuindo com o meio ambiente e, de quebra, adquire um modelo ano 2009. Por falar em aquisição, preço é fator fundamental nesta categoria. A Yamaha segurou as rédeas e o aumento de preço foi ínfimo, no casa de 1%. Temos então R$ 6.585 para a Factor 125 ED (freio a disco, rodas de liga leve e partida elétrica), valor alinhado ao da Honda CG 150 Titan ES (partida elétrica, freio a tambor, rodas raiadas), vendida por R$ 6.400 em São Paulo. Primeira questão: por preços semelhantes, uma Factor 125 com freio a disco e partida elétrica ou uma CG 150 só com partida elétrica?



Sem levar multa

Já comentei a responsabilidade de comparar modelos de baixa cilindrada. Por isso, além das tradicionais ferramentas de teste usadas pela equipe de DUAS RODAS (GPS, pista fechada, pilotos profissionais), tínhamos que simular, na prática, o cotidiano de um feliz proprietário de moto pequena. E sejamos sinceros: ninguém compra uma 125 ou 150cc para desfilar à noite. Além de ferramenta de trabalho ou simplesmente de locomoção, estas motocicletas servem, muitas vezes, de único veículo. Elas "ralam" durante a semana e não param sábado e domingo. Em São Paulo, por exemplo, um programa "básico" é dar uma esticada até o litoral, percurso de aproximadamente 180 km (ida e volta).



E morro abaixo todo santo ajuda. Abastecemos as rivais e seguimos para a Baixada Santista. Tento realinhar o pensamento, já que manter velocidades ao redor de 110 km/h (limite da estrada) não é nada fácil. E tento também segurar o ímpeto de meus dois companheiros, Leandro Mello e Francis Vieira que, montados em qualquer coisa de duas rodas que não tenham que pedalar, incorporam Valentino Rossi. Mas a pressa deles valeu a pena. "Ah, a 150cc é bem melhor", diriam os mais apressados. Sem entrar no quesito potência real (veja "Motores à prova"), o que vimos na estrada foi uma diferença de performance sutil. Mais até nas retomadas, graças ao maior torque da CG 150, que propriamente na velocidade final.

Motocicletas de baixa cilindrada sentem qualquer variação. E ao redor dos 100 km/h a resistência aerodinâmica é a maior vilã neste caso. Debruçados sobre o tanque, a motocicleta que estava atrás era sempre a mais rápida. Usando a moto da frente como escudo, ora a Factor era mais veloz, ora a CG. Depois da ultrapassagem, era a vez de ficar com a "cara no vento" e se tornar mais lenta novamente... Seguimos assim até Santos. Em nenhum momento infringimos a Lei, já que elas não passam mesmo de 110 km/h, limite da estrada. Corrigidos pelo equipamento GPS (e sem ajuda do vácuo), CG 150 Titan atingiu exatos 108 km/h de velocidade máxima, enquanto a Factor YBR 125 apontou um pouco menos, 103 km/h.



Dinheiro curto

Chegando ao litoral, hora de anotações e coleta de depoimentos. Por unanimidade, os pilotos chegaram às seguintes conclusões: o motor da CG 150 é realmente mais esperto e vibra menos que o da Factor; as suspensões da CG também estão um passo à frente, mantendo estabilidade como as da YBR, mas oferecem mais conforto, assim como o assento mais macio. A favor da Factor ficaram o design atualizado, os freios infinitamente melhores (disco na dianteira, que além de mais rápido na resposta exige menos força) e os punhos melhor desenhados e de fácil acionamento. Em resumo, a CG 150 Titan tem o melhor motor, enquanto a Factor oferece o melhor conjunto.



Dono de CG ou Factor não costuma estar nadando em dinheiro, convenhamos. Estamos em Santos, como muitos estarão no fim de semana. Olho para o lado, promoção: "Cachorro quente e refrigerante por R$ 2,50". Ótimo, o almoço está garantido! À frente, balsa Santos-Guarujá. Pergunto qual o preço da balsa e a resposta é: "Neste trajeto, moto não paga!". Sem pestanejar, atravessamos o canal para a cidade mais rica do Litoral Sul de São Paulo. Dinheiro curto, porção de camarão por R$ 36... Pensei novamente no consumo de gasolina. Pelo valor de uma porção de camarão, consigo completar o tanque das motos (13 litros na YBR e 14 litros na Titan) e comer mais um cachorro quente. E com refrigerante! Ainda bem que almoçamos em Santos.



Subimos a serra pela Rodovia dos Imigrantes, quase sem curvas, mas bem inclinada. Quarta marcha, punho direito no limite e começa novamente o "racha" entre os pilotos, agora penalizado pela máxima de Isaac Newton. Com a lei da gravidade pesando contra, os velocímetros quase não atingem os 110 km/h (na descida, chegaram a apontar 125 km/h na Factor e 135 km/h na CG). Nesta tocada, o melhor a fazer é ganhar a pista da direita, ter paciência e curtir o visual dos carros 1.0 que nos ultrapassam sem muita cerimônia. Penso novamente no consumo, que deve ficar bem comprometido nessa situação. Escurece e a YBR ganha mais um pontinho: o farol tem uma capacidade de iluminação melhor, não pela potência do conjunto, mas pela distribuição da luz pelo refletor.



Chegamos em São Paulo, hora do rush. Abastecemos as rivais e... surpresa! Mesmo massacradas, sem dó nem piedade, as duas revelaram porque são as queridinhas do mercado. Custam pouco e gastam menos ainda. A Factor, mesmo catalisada, foi a campeã, com média de 33,1 km/litro. A CG 150 Titan consumiu 30,3 km/litro. Nada mal para quem viajou para a praia e voltou, acelerando tudo, e gastando R$ 8,40 de gasolina. Ah, mais R$ 2,50 do cachorro quente com refrigerante.

Motores à prova




Na apresentação da Factor YBR 125, era grande a expectativa pela perda de potência. Todos sabem que a adoção do conversor catalítico no escapamento rouba potência. Sempre foi assim e continuará sendo. Num primeiro momento a Yamaha negou, mas voltou atrás e confirmou a diminuição da cavalaria: Os números divulgados agora são de 11,2 cv a 8000 giros e 1,13 kgf.m de torque a 6.000 rpm (12,5 cv e 1,19 kgf.m na YBR antiga). Curioso é que andando com a moto quase não se sente esta diferença, já que o motor da Factor funciona melhor que o antigo, graças aos acertos na CDI (agora toda digital) e na calibração do carburador com segundo estágio a vácuo. Além disso, vale ressaltar que o valor de torque da Factor, praticamente o mesmo, aparece 500 giros antes, dando impressão de mais força ou, pelo menos, de não ter perdido tanto torque. Para o tira-teima levamos as duas rivais (e a YBR antiga) ao centro automotivo Funari (www.funari.com.br). Lá, utilizamos o equipamento Mustang, um dinamômetro de rolo que mede a potência na roda, ou seja, a potência real que chega à roda traseira da moto. Sem sombra de dúvidas, a CG Titan, com 150cc, foi a mais potente, revelando 11,8 cv na roda. A Factor, com 125cc e catalisador, atingiu 8,9 cv, enquanto a YBR sem catalisador obteve 1 cv a mais, totalizando 9,9 cv. Analisando friamente os números, pode-se chegar à conclusão que a Honda é bem mais potente, mas como os valores básicos são baixos, a resultante também é baixa. Na prática é o seguinte: dois, três ou até quatro cavalos não são suficientes para que um modelo seja muito mais rápido que o outro. A melhor condução da CG 150 se dá mais pelo torque que propriamente pela maior potência.