A cada 100 km, são 47 infrações

Pesquisa mostra que principal problema é falta de seta nas conversões; especialista acha resultado 'otimista'

Niza Souza Mauro Mug


Em estradas paulistas, a cada cem quilômetros são cometidas 47 infrações de trânsito por um veículo. Esse é o resultado de uma pesquisa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), divulgada na semana passada, que quantificou, por amostragem, os índices de infrações cometidas pelos motoristas nas Rodovias Anhangüera, Bandeirantes e Castelo Branco. Segundo o engenheiro e coordenador da pesquisa, Horácio Augusto Figueira, o resultado é preocupante.
Mas, para o engenheiro Luiz Célio Bottura, consultor em Engenharia Urbana e Transporte, os números são 'otimistas'. 'A situação real é muito pior do que isso. Nosso motorista é malformado e desrespeita as leis de trânsito.' Bottura citou outra pesquisa que aponta que apenas um motorista, entre 10 mil que cometem infrações, é multado, se for levado ao pé da letra o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). 'Quem liga o pisca-pisca quando vai mudar de faixa? Quem deixa de usar o celular quando está dirigindo?' Na primeira parte do estudo os pesquisadores acompanharam, aleatoriamente, alguns veículos nas estradas. Foram 574 quilômetros rodados em cerca de 6 horas e meia de acompanhamento, sempre entre 10 e 17 horas. Dos 148 veículos observados pelos pesquisadores, 75,7% (112 veículos) cometeram algum tipo de infração.
No ranking das infrações, a falta do uso da seta na mudança de faixa vem em primeiro lugar, com 64%. Na seqüência, estão excesso de velocidade (15%), braço para fora do veículo (8,5%), falta do cinto de segurança (4,5%) e uso de celular (2,6%). Os fins de semana concentram o maior número de infrações. 'É quando as pessoas estão mais relaxadas', afirmou Figueira.
Entre os 24 tipos de veículos analisados na pesquisa, os carros da polícia estão no topo da lista dos infratores. Em seguida, estão os carros particulares dirigidos por homens e em terceiro os ônibus urbanos. Com base na pesquisa, a Abramet propõe a criação de ações educativas permanentes e uma fiscalização aleatória de controle de velocidade nas rodovias. 'Não há dúvida de que o número de acidentes e mortes nas estradas está ligado às infrações', diz o médico Fábio Racy, presidente da Abramet.

Abramet propõe ações educativas e permanentes nas estradas

CÂMERAS
No Sistema Anchieta-Imigrantes, as 128 câmeras que monitoram o tráfego captam diariamente cenas de excesso de velocidade, mudança de faixa sem utilização da seta, não-utilização do cinto de segurança, uso de celular, ultrapassagens irregulares, conversões proibidas e motoristas alcoolizados fazendo ziguezague na pista. Há até garotos que atravessam as pistas com trânsito intenso e pulam os alambrados dos canteiros centrais, apesar das passarelas, para apanhar uma pipa.
Ontem, não foi diferente.
Nos monitores do Centro de Controle de Operações (CCO), da Ecovias, podiam ser vistos grupos de ciclistas que atravessavam as pistas da Via Anchieta, no km 55, onde se localiza o Trevo de Cubatão, como se estivessem passeando pela praia.
A situação se repetia no km 67,5 da Imigrantes, em São Vicente, no cruzamento com a Rua Paulo Henrique. Com o sinal fechado, motociclistas e ciclistas teimavam em atravessar por entre os carros.
Os operadores do CCO torcem para que não ocorra o pior. Às 6h30, de nada adiantou a torcida. Alan da Fonseca, de 25 anos, perdeu o controle de sua moto, bateu em uma placa de sinalização e, depois, em um poste, no km 280 da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega. Morreu no local. No km 40,8, o painel eletrônico avisa: 'Melhor opção: Anchieta'. Muitos motoristas não acreditam na recomendação e seguem pela Imigrantes. Ao constatar que a lentidão é real, dão marcha à ré e, depois de rodar alguns metros cometendo a infração, entram na alça de acesso à Interligação Planalto para voltar à Anchieta. ?